Ele chora no Bolão. E seu gesto chama a atenção do filho pequeno. Ambos juntos no Bolão. Nas quadras que tantas vezes foram em companhia um do outro. Lá, que desde cedo o pai fez o filho se acostumar como sendo uma espécie de segunda casa. Ele chora. E o gesto impacta o filho, que mesmo tendo ido tantas vezes no Bolão em dia de jogo, ainda não tem compreensão plena das grandes emoções que o Bolão proporciona. Ele chora. E com o gesto, o menino chora também. Mesmo que, com tão pouca idade, ainda não devesse ter maturidade para tamanho sofrimento. Para aquele momento que marca sempre os corações dos apaixonados.
E com o choro, vem a dor. O embrulho no estômago. A sensação doída de que o tempo parou e se eternizou em meio às sensações. E de repente, o filho não chora mais. Não de forma contida. O que contagia o pai e o leva aos prantos, também. Um com o outro.
Choro que quebra barreiras. Diminui diferenças. Aproxima gerações. Ambos viram crianças. Amigos do peito. Companheiros de Bolão. Parceiros de alegrias e de sofrimentos.
Soluçam abraçados. Olhos cerrados. Não veem nada do que acontece em seus entornos. Não percebem que os jogadores, lá nas canchas, testam explicações inexplicáveis sobre como perderam o jogo, no mundo de um esporte que, apesar de tudo, insiste em escapar do meramente lúdico para se transformar em fonte de identidade de todo um povo.
O pai de repente lembra dos momentos de glória que ficaram no passado. Tempos de título, de festas, de bonanças e de muito Bolão. Chega a esboçar um tímido sorriso nostálgico num canto de boca, curiosamente embasbacado com aquele "180 pinos" inesquecível que, como tal, permanece em seu coração depois de tantos anos. Processa o feito em seu imaginário, como se apegasse a algum rastro de felicidade passada para suportar a crueldade presente.
Então, ambos começam a caminhar lentamente. É o início da volta para casa. Com a derrota de pouco tempo atrás ainda latejando nos pensamentos desencontrados. Mas, desta vez, de forma mais sóbria. Sabedores de que nenhum resultado, nenhuma derrota, nenhum abalo vai fazer fraquejar o amor que ambos têm pelo esporte. Amor que fazem deles mais próximos. Mais amigos. Mais cúmplices. Uma só essência. (Adaptado da Crônica de Phelipe Caldas).
Edição: Blog O Braço de Ouro
Fonte: Phelipe Caldas
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