De fato, o que estamos presenciando é uma metamorfose do esporte mundial. Há um movimento irreversível que está asfixiando a tradicional e contemplativa diversão que toda uma geração maravilhava-se em assistir. O mundo parece querer transformar o esporte coletivo num sofrível tabuleiro de xadrez, onde prevalecem as estratégias em detrimento das habilidades, onde a astúcia toma o lugar da técnica. O sucesso deriva hoje da forma como os estrategistas neutralizam o pouco da habilidade que ainda perdura nos campos de jogo.
Na essência, o esporte ficou muito chato! Talvez não somente por culpa deles, os atletas. Com a escassez de novos talentos, abre-se um caminho em que a mediocridade passe a assumir o protagonismo no esporte debelando de vez a técnica e a habilidade. Basta ver que o esportista moderno vem sendo movido única e exclusivamente por resultados determinados por quem os dirige e patrocina. Acaba por ser muito mais valorizado pelo comprometimento tático e físico a qual se aplica, que propriamente pela habilidade que traz na bagagem. Passa a experienciar novas metodologias de preparações físicas e técnicas e de enredos estratégicos que vão prostituindo o seu talento.
A partir disso, vem surgindo uma nova classe de esportistas que é totalmente intolerante à contrariedades. Um imenso canteiro de ansiedades indesejosos de fazer sacrifícios. Some-se a isso o avanço da cultura da supremacia dos direitos e temos ai uma geração que não dança mais conforme a música, mas a música há que render-se aos seus juízos. Além disso, tudo passa a ser motivo para reclamações, principalmente, para resultados ruins: um campo ruim, um juiz ruim, um técnico ruim, uma torcida intransigente, um tedioso VAR, uma imprensa crítica e até de companheiros negligentes, ao mesmo tempo em que se mostram cada vez mais avessos às dificuldades. Foi-se o tempo da capacidade de readaptação e de reinvenção, sem falar nos treinamentos de aprimoramento técnico, habilidades que facultavam ao atleta o necessário know-how para adequar-se às adversidades e dificuldades impostas pelas práticas esportivas.
Como promover, então, a tão necessária renovação no esporte? Como cativar futuros praticantes em meio a um cenário tão obscuro? Um gigantesco desafio! Saudades dos tempos de Pelé, Tostão, Gerson, Sócrates e tantos outros heróis que embalavam os nossos sonhos de, algum dia, também poder experienciar o sucesso sem se importar com as adversidades e adversários, só pelo simples prazer de praticar o esporte. Lembro-me bem dos tempos de iniciante no Bolão, em que assistia atentamente aos treinamentos do casal Neri e Marla Grasel, que constantemente testavam seu talento com novas metodologias de treinos com formação de figuras dos pinos, arremessos com olhos fechados, entre outros métodos não convencionais, que lhes atribuíram tanto êxito por onde jogassem Bolão.
Portanto, menos técnicos e mais craques; menos tática e mais prática; menos objeção e mais doação; menos tecnologia e mais empatia e talvez consigamos reverter este adverso cenário que não estamos nada confortáveis em assistir. Por José Carlos Werle, Professor, Administrador de Empresas e Editor do Blog.
Edição e Redação: Blog O Braço de Ouro
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