CAIXA ESQUERDA E/OU CAIXA DIREITA?

Um jovem aprendiz arremessa a bola que, lenta e teimosamente, sai do trilho da pista e ruma para a caixa direita. Caprichosamente ela toca os pinos que se espalham num inusitado e impensável "nove". Risos e murmúrios disfarçados ecoam pelos bastidores que, imediatamente, convertem-se em aplausos para delírio do capitão e companheiros de time. 

Sei que não existem regras que obriguem atletas a arremessar a bola 23 na caixa esquerda. Tecnicamente, você pode fazer praticamente o que quiser sobre a pista, desde que não fira regramentos e a disciplina. Mas, no contexto do Bolão, é convencionado que o "nove justo" deva ser na caixa esquerda. Mas, você já se perguntou do por quê? 

Alguém poderia apressadamente supor que essas palavras oferecem apoio à militância política que condena o esquerdismo. De forma alguma! Nesse caso, seria bom lembrar que times já conquistaram títulos com bolas roladas para a caixa direita como alternativa às dificuldades impostas pelas pistas de jogo. Um bom exemplo disso foi o Campeonato Brasileiro de Clubes Masculino de 2015, realizado na cidade de Campo Bom, onde a maioria dos finalistas optou pela manobra na pista 3. 

Quando as coisas não vão bem no dia a dia, costumamos dizer: "Hoje levantei com o pé esquerdo", o que não significa que estejamos nos aludindo politicamente. Neste caso, também seria bom lembrar que a Bíblia, em linguagem poética, declara: "Não declines nem para a direita, nem para a esquerda" (PV 4:27). Também, por hábito e tradição, convencionou-se utilizar a aliança de noivado na mão direita e de casamento na mão esquerda. Mas, por quê?

O fato é que não estou aqui para escrever sobre política e costumes históricos, mas de filosofia de vida. As nossas escolhas não deveriam ser conduzidas com base em valores absolutos. O Bolão é um clássico exemplo de esporte absoluto, que segue à risca convenções e tradições ainda ligadas ao seu país de origem, que foram e seguem passando por gerações e continuam sendo transmitidos aos seus novos praticantes. Tradições que também incorporam valores sociais e culturais, como respeito, a disciplina e a cooperação, é verdade, e que nos ajudam a entender quem somos. A minha sugestão é de que passemos a assumir para o Bolão uma abordagem mais do "Era uma vez" para "O moderno pede passagem", para entender melhor o tempo em que vivemos.

Edição e Redação: Blog O Braço de Ouro